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A outra face


"É preciso amor, pra poder pulsar

É preciso paz, pra poder sorrir

É preciso a chuva para florir" - Almir Sater


    Minha segunda experiência foi bem tranquila e me senti muito bem durante o atendimento, o ambiente estava bem pacífico e calmo. Muito diferente do primeiro dia de atendimento.
    Começamos o atendimento pela paciente que não tivemos a oportunidade de atender semana passada, devido seu quadro ter se agravado. Tocamos canções de infância, como "Cai Cai Balão", "Se Essa Rua Fosse Minha". Logo fomos para outros pacientes, senti que alguns deles estavam mais distantes nessa semana, a maioria por causa de remédios. Outros por outro lado, estavam bem animados e ativos.

    Algo que me marcou bastante foi ter tocado violão pela primeira vez em um atendimento, ainda estou aprendendo a ter uma relação com esse instrumento, sei que ele é muito importante para os atendimentos, principalmente pela sua praticidade e versatilidade, então me senti bem feliz por conseguir tocar uma canção com ele.
    Houve também muitas emoções ao atender uma das pacientes, durante todas as canções ela sinalizava com "joinha" como quem diz "estou gostando muito", e isso nos motivava muito, mas por outro lado tive um pequeno momento de pânico e choque quando houve uma queda de energia devido à chuva muito forte, me bateu um desespero quando todas as luzes se apagaram, pois muitos dos pacientes estão ligados à máquinas, minha primeira reação foi olhar para a máquina que marcava os batimentos cardíacos, mas felizmente logo os geradores de emergência foram acionados, mas mesmo durante esse momento de susto, nós não paramos de tocar nem um minuto se quer, e dava para ver no olhar de meus colegas que eu não era a única que tinha ficado preocupada. Fiquei impressionada com a calma com que os enfermeiros lidavam com aquela situação toda, eles foram em cada leito checar se estava tudo bem. Continuamos o atendimento dela, e na canção de finalização, "Foi Um Prazer Poder Cantar Com Você" ela se emocionou ao colocarmos o nome dela, ela começou a secar lagrimas e isso mexeu bastante comigo, busquei o olhar de meus colegas, para que não começasse a chorar, logo a energia retornou e continuamos os atendimentos.
    Eu e uma colega de estágio fomos para o acolhimento dos familiares, chegando lá não havia ninguém, devido a chuva, então eu e ela resolvemos ficar tocando e treinando algumas canções enquanto esperávamos os familiares chegarem. Estávamos tocando e cantando "Aleluia" quando uma visitante chegou, ela ficou muito animada e ao finalizarmos a canção, ela bateu palmas e falou "Nossa vocês não sabem como isso me fez bem, como foi bom eu chegar aqui depois de um dia de muito estresse e vocês estarem aqui tocando essa canção, que é uma das minhas favorita", isso me deixou extremamente feliz e grata, pois vemos o quanto esse trabalho de acolhimento realmente é importante e ajuda as pessoas, o quanto isso acalma e traz paz à elas. Depois tocamos outras canções como "Tocando em Frente", logo outros visitantes chegaram, inclusive a que havia recusado o trabalho na semana anterior, mas dessa vez ela aceitou e ficou lá escutando as canções. 
    Com isso, aprendi que devemos respeitar o momento de cada um, não devemos ficar insistindo se uma pessoa não quer, pode ser pior. Devemos apenas fazer nosso trabalho da melhor maneira possível, para que chegue ao outro, vamos escutar muitos "não" e isso vai ser bem difícil, mas quando chegar a hora e o momento certo a pessoa vai aceitar. E se nos colocarmos no lugar daquelas pessoas, podemos ver o quão difícil é ver seus entes queridos naquelas condições. 
Sentimentos que descrevam esse dia: gratidão, tranquilidade, leveza, alegria, amor e surpresa.

Instrumentos Utilizados: voz, violão, ovinhos de percussão e ukulele. 

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