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Hoje a experiência musical foi extremamente positiva para mim. Fui movida mais adiante na busca pelas respostas das perguntas que me fiz no início desse estágio e que escrevi na apresentação pessoal desse blog. Bem estar. Me senti acolhida mais ainda pelo ambiente, pelos profissionais, pela família, pelo grupo de estágio e para minha surpresa, por mim mesma. Pelo ambiente senti hoje o acolhimento por estar se tornando parte da minha rotina, me sentir pertencente e atuante a cada passo de autonomia que me lanço ao entrar e já saber o que fazer (embora nunca sabemos o que fazer em ambiente terapêutico imprevisível). Fiquei feliz porque aos poucos temos ganhado espaço pela equipe, que já compreende nosso horário e por aquele momento de estágio de espaço compartilhado para o trabalho. Pela família porque quando entrei na sala de espera pude sentir um ambiente harmonioso, leve e descontraído onde a primeira vitória foi ver os familiares de uma paciente que ficaram do lado de fora da sala na primeira sessão estarem sentados e interagindo musicalmente.

Aos poucos as intervenções, a sonoridade na UTI vão tomando forma e se tornando orgânicas. O nosso grupo se consolida cada vez mais musicalmente, o que reflete nitidamente nos pacientes e nos atendimentos. Ainda sinto certo nervosismo ao sair do instrumento que tenho mais prática, mas procuro contornar a situação utilizando a voz e a percussão. Pudemos proporcionar um ambiente harmônico com a entoação em jogo de duas vozes divididas e defasadas em melodias que enchiam e emergiram na UTI em uma nova sonoridade preenchendo todo o espaço. Participar daquele momento foi único ao poder ver nossa querida amiga - não sinto vontade de chamá-la de paciente diante da afetividade que esse momento criou - despertando do sono leve com um sorriso no rosto ao ouvir um cânone de uma canção infantil construída pelas nossas vozes.

Pensar terapeuticamente tem sido compreender as habilidades de cada paciente dentro de suas possibilidades, seja sorrindo, chorando, esboçando um gesto de agradecimento ou movimentando as pálpebras. Além disso, é pensar também qual é a melhor de criar um espaço de aproximação até o paciente quando chegamos até eles toda semana? Ser cauteloso, não invasivo e compreensível são as novas percepções que reflito sobre a prática de hoje. É lembrar que estamos em contato diretamente com seres humanos. Poder fazer a leitura de suas expressões, sentir quando agrada ou desagrada e poder auxiliar em ambiente hospitalar é proporcionar um mínimo momento de escolhas dentro do nosso trabalho respeitando o que esta pessoa gosta desde histórias, conversas até as canções. Quero me aprofundar melhor sobre como podemos proporcionar autonomia em tais escolhas implícitas no que eles querem e gostam de ouvir através da expressividade dos pacientes como resposta as canções que levamos, já que ainda não temos comunicação verbal de sim e não estabelecidas.

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