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Um Olhar Para a Vida


Até que ponto a vida é realmente digna de se viver?

Até que ponto temos nossas próprias escolhas?

Até onde podemos aguentar?


      Essas foram a nossa reflexão/discussão que eu e meus colegas de estágio tivemos antes do atendimento de hoje, é doloroso pensar nessas coisas, mas é um assunto inevitável dentro da área que estamos estagiando.
Começamos o atendimento, com um paciente que estava em uma área de isolamento, mas ele já apresentava sinais de melhora e estava sentado em uma poltrona que fica ao lado do seu leito, seu olhar era um pouco distante, mas durante algumas canções ele buscava nossos olhares. Logo depois dele, fomos para uma outra paciente onde me marcou muito, ela estava em coma já fazia algumas semanas e durante a primeira canção, de cunho religioso, ela abriu os olhos, isso foi realmente emocionante, fiquei muito feliz com isso. Continuamos o atendimento e depois o finalizamos e fomos para os outros leitos.
Houve um outro momento que me marcou muito nesse dia, começamos a atender uma paciente que estava dormindo, com algumas canções de roda, logo nosso orientador começou a puxar a canção “Escravos de Jó” todos começamos o acompanhar, aí durante a canção ele fez sinalizações para que nos dividíssemos em dois grupos, assim fizemos um grupo começou a cantar “escravos de Jó jogavam caxangá” quando esse primeiro grupo chegavam em “caxangá” o segundo grupo começava a canção do começo e o primeiro continuava de onde estavam, assim formando um cânone, apenas com vozes, foi um momento muito lindo e que só de lembrar dá um “arrepio”, e no meio desse cânone, nossa paciente acordou, mas foi como ela estivesse despertando de um sono de beleza, toda linda e sorridente, foi uma cena muito bonita, ela olhava maravilhada. Fizemos outras canções com ela e o que me deixou de coração partido foi ver essa paciente tentar limpar as lágrimas e não conseguir, ela olhou para baixo e viu que seus braços estavam presos, e até tentou soltá-los, mas sem sucesso, isso foi realmente muito triste, a primeira coisa que veio em minha cabeça, foi a vontade de ir ajudá-la, mas ela estava assim pois havia tentando tirar seu tudo de respiração e os soros/remédios, mas tirando esse pequeno momento de partir o coração, o atendimento dela foi ótimo, muito animador e gratificante.
Meu orientador me chamou para que eu fosse fazer o acolhimento dos familiares com ele e meus três colegas de estágio ficaram para atender os últimos pacientes. Fomos para a sala de espera e não havia ninguém, começamos a tocar algumas canções enquanto esperávamos. Uma família chegou e nos cumprimentaram, fizemos algumas canções de cunho religioso, chegaram outras famílias e quando tocamos “Asa Branca”, quase todos da primeira família que havia chego se retirou da sala, não sei exatamente o por que, se foi a levada da canção, a letra ou o que. As outras famílias continuaram lá com nós, cantando e dançando.
Uma enfermeira veio chamá-los para o horário de visita e finalizamos nossos atendimentos. Aprendi que apesar da condição de cada pessoa, a gente aprende a lidar com aquilo da melhor maneira possível e tenta superar os obstáculos para lutar pela vida, aproveitando todo o momento possível e sempre com o apoio daquelas pessoas queridas e amadas.


Sentimentos que descrevem esse dia: surpresa, alegria, animação, gratidão, amor, angústia, aflições, dúvidas e reflexões.
Instrumentos utilizados: voz, violão, ukulele e ovinhos de percussão.

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