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Um Novo Caminho


     Primeiro dia de estágio, e eu estava como? Ansiosa, preocupada, uma mistura de sentimentos. Demoramos um pouco para entrarmos na UTI, a enfermeira chefe nos avisou que havia uma paciente em estado crítico e que eles estavam comunicando a família para que eles viessem se despedir, naquele momento eu fiquei sem reação, primeiro dia de estagio e já damos de cara com a morte? É isso mesmo produção? Continuando, conhecemos os moradores e as pacientes que estavam aqueles dias na UTI, passamos por uma paciente lúcida, muito gentil e simpática que por relatos da família enquanto estava em casa ela pedia a nossa visita, cantamos utilizando o nome dela e ela se emocionou muito, tentava se comunicar conosco, mexia os lábios porém não emitia som algum, também cantamos algumas canções religiosas. Posteriormente passamos por um morador Rockeiro, SIM, Rockeiro! E a nossa dúvida era como tocar rock metal com um violão e ovinhos? Ali estava diante de nós um grande desafio. Enfim, nos aproximamos de uma paciente que estava sentada que se comunicava verbalmente e possuía movimentação corporal, diferente dos demais pacientes, apresentava traços demência, pois repetiu algumas vezes a mesma história de onde morava e de quando ia dançar na sua juventude, quando o Orientador puxou a canção “Se essa rua fosse minha”, a senhora segurou o braço dele e disse -Pare, mas não era um pare de que não queria que cantássemos ou que não gostasse da canção, era um -Pare de surpresa, de que havíamos acertado a canção, ela comentou que despertava lembranças nela.
     Passamos por um homem que havia sigo internado a pouco tempo, assim que começamos cantando um “Boa Tarde” e cantamos o nome dele, ele se emocionou muito e começou a chorar.
     Enquanto dois colegas saíram da UTI para encontrar as famílias nós continuamos passando nos leitos, fomos até um senhor que estava muito debilitado e sedado, entramos com a proposta de ficar somente no instrumental, e percebíamos a movimentação dos olhos que passava pelo braço do violão enquanto o Orientador dedilhava.
Quando chegamos na sala de espera podíamos sentir um sentimento de rejeição, principalmente por parte da família daquela senhora que estava em estado crítico, cantamos algumas canções até que eles foram liberados para entrar.
Esse primeiro dia foi incrível, em vários momentos senti que não aguentaria e cairia em lágrimas, não simplesmente pelo fato daquelas pessoas estarem naquela condição, mas ao ver as emoções que eram despertadas com apenas um “Boa Tarde”, ou quando cantávamos os nomes deles.
     Sinceramente a cada dia me sinto mais motivada a continuar nesta caminhada, e a contribuir, humanizar a sonoridade a UTI, aquelas pessoas passam seus dias no mesmo lugar, envoltos por aparelhos que os mantem vivos, a música pode transformar o ambiente, e nos transformar.

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