O musicoterapeuta Gregório Queiroz diz que a repetição em música é novidade, uma vez que se
experimenta, no presente, sensações e emoções. Ele diz que a música é a única
arte em que há significado e expressividade no ato de se repetir ou de se
retomar.
A gente tenta conter o tempo que passa e não se repete ao reinventar as canções. Às vezes, as mesmas durante semanas...
Pô, gente, mas sempre essa??
Com uma pessoa nova, mas consciente e capaz de se expressar, ainda assim a incógnita
Que música você gosta?
Entre sondas e amarras, nem eu responderia. Olhei fixamente nos olhos e respeitei o seu silêncio. E essas pausas costumam falar alto.
Mas, nossa tarefa é cantar, sonorizar, tocar...
Entra beijinhodocenoombroencostatuacabecinhaajoelhaechora...lágrimas brotaram da face
Será que estamos incomodando?
Calei a escaleta e me pus a "ouvir" suas expressões faciais e corporais. O braço inquieto. A boca, ora acompanhava, ora parecia protestar. A música com "dor" ou "saudade". E mais lágrimas.
Definitivamente, estamos incomodando.
Outro musicoterapeuta, Gustavo Gattino, diz que a música pode ter efeitos negativos, por, entre outras coisas, apresentar padrões desconhecidos ou repetitivos. Em geral, não gostamos do que se repete ou do que nos surpreende.
Parei pra pensar e deixei a escaleta cair no chão. A pessoa acorda do sono súbito. Sorri. Acessei de uma maneira inesperada.
Toca um vanerão aí!
A dica da enfermeira dá conta que a pessoa vinha do interior, onde provavelmente morava só. "Lembranças", canção de Telmo de Lima Freitas, de versos:
Entre as flores dos velhos ipês
Sempre vivas dormidas se acordam
Na lembrança da primeira vez.
Mais uma vez, os olhos se fecham, mas, nessa hora não se abriam de súbito e nem demonstravam cansaço. A cada verso, a cada nota, se notava uma viagem na horizontal. Os braços se acalmaram. A boca se fechou. O batimento cardíaco se estabilizou.
Você foi para o seu lugar?
A resposta foi afirmativa. O conhecido, nessa hora, foi o meio de reviver, longe do hospital, o familiar, o agradável. A seguir, a rerepetição de "Menino da Porteira"
Toda vez que eu viajava pela estrada de Ouro Fino...
E Ouro Fino, de repente, era ali. Se repetindo. Se retomando. Se surpreendendo. Outra viagem. Outra vez os mesmos elementos.
Vocês vão embora? Posso ir com vocês?
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